Artigos

Verão e gordofobia

0

A estação mais eletrizante do ano, traz um fantasma que aterroriza a liberdade e a espontaneidade de se ser o que quiser…

    “Verão é tempo de roupas leves e desnudar corpos” afinal de contas a temperatura sobe aqui na Bahia então com tantas festas de largo, baladas, lugares pra ir apreciar um pôr-do-sol a beira mar, não cabe calça jeans ou black tie.

    E nós somos diariamente lentadxs pela indústria da moda, e as tendências de vestuário que não incluem o que por aqui é mais comum: mulheres e homens protuberantes por natureza. Mas como a sociedade é mais perversa com o feminino, somos nós mulheres que sofremos mais!

    Somos bombardeadas constantemente, no verão só piora, com tantas informações desencontradas, segmentos da saúde que se combatem para fatura mais, ainda que isso conflitue com questões éticas; enxurradas de matérias em revistas baratas oferecendo receitas milagrosas de emagrecimento e ou redução de protuberâncias corporais indesejáveis; as farmácias com as prateleiras abarrotadas de shakes, sopas, inibidores de apetite e géis redutores; as academias aproveitam o ensejo para triplicar o faturamento em curto espaço de tempo – com clientes que sequer frequentam mais que uma semana do mês quitado; e o que dizer das clínicas estéticas e suas ofertas de pacote de serviços? E as buscas no google por receitas de sucos detox após festejos de fim de ano?(Nossa senhora do google que elimine os excessos cometidos!)

    Tudo para mostrarmos nossa melhor forma, bombar de likes nas redes sociais, forjando uma falsa sensação de felicidade, plenitude e culto dissimulado ao belo.

    Alguém aí já perguntou o que ocorre com quem não atinge a “meta” do corpo sarado para o verão?

Obvio que não! A individualidade,o egoísmo e narcisismo falam mais alto. Nessa época não tem exercício de empatia certo.

Mas vou ousar deduzir: Continuam vivendo de boas, ou sendo constantemente colocadxs em situação constrangedora de ter que explicar porque está ‘fora de forma’.

    Quem nunca ouviu algum(a) genix da medicina, que sequer sabe o conceito de saúde, se referir a essas pessoas generalizando o motivo da forma corporal avantajada, e sugerir soluções que sequer foram pedidas? Ora uma dieta nem é cara…ou, para de comer/beber tanto…

    E pessoas rechonchudas são como são, exclusivamente por desleixo? Ou por excessos? Vocês abiam que passar necessidade também engorda? E hormônios em desequilíbrio? E se for estrutura física por fator genético? Ou ainda apenas por opção? PODE? Você vai deixar a outra pessoa em paz com as escolhas que ela fez e está satisfeita, e porque não dizer feliz!

    Nós e essas manias de medir o mundo com nossa régua, a partir de nossos achismos e nossos pontos individuais de vista, esqueça daquela máxima de que de médico todos temos um pouco.

    No verão passado houve uma academia que abusou numa publicidade: “Nesse verão você quer ser sereia ou baleia?”

A peça de marketing foi removido após receber resposta negativa, um e-mail de uma    mulher gorda, satisfeita com sua forma física e resolvida a ponto de reagir a “inocente” mensagem desconstruindo a ideologia por trás. De cara ela já atacou as figuras icônicas: “baleias viajam, interagem com outros seres marinhos, cantam – o que infere que são felizes, enquanto que sereias nem existem”.

    Viver numa cultura baseada exclusivamente na aparência superficial das coisas é reduzir demais a experiência de vida, aprendizagem e troca entre as pessoas, os ambientes e o enriquecimento pessoal de ampliação de percepções e crescimento, dialogo com o diferente cresce as possibilidades ao nosso retorno.

    Quem nunca ouviu: “Até tava infeliz com meu corpo, até que fui à praia e vi cada coisa que me senti bem melhor diante das aberrações que vi lá…”

    Então o problema dessa pessoa foi direcionado pra outra pessoa, na tentativa  de deslocar o foco de si. Enfatizando, a entidade estima parece existir, estar fortalecida e funcionando de vento em polpa em uma, como sinal de estar sintonizada consigo mesma independente do que as demais pessoas sintam, pensem ou falem, enquanto que a outra precisa de uma falsa aprovação do seu ego.

    Pessoas não devem ser tratadas como peças, fabricadas em uma linha de montagem em série, por isso há uma riqueza em cada indivíduo e sua forma de ser e estar no mundo. Rótulos foram feito pra objetos, mas equivocadamente tem sido aplicado à pessoas.

        Vocês souberam que há algumas semanas um menina cometeu suicídio por não estar com o corpo dentro dos padrões estabelecidos? Esse tipo de violência simbólica tem um potencial devastador, porque imagine vocês uma vida sendo interrompida por conta da massante veiculação de uma mensagem que é:ser linda, amada e ter sucesso é só pra quem é magra!

    O exercício da espontaneidade tem sido desencorajado em nome de uma “normalidade” nada natural, pois elege-se o comportamento mais adequado, ditado em nome de qualquer coisa que não o bem estar e a satisfação dxs envolvidxs. É necessário se atentar pra esses movimentos de alienação que consiste em nos tomar de assalto a noção do tal livre arbítrio, nos tornando vigilantes e algozes dos nossos iguais, desautorizando sua existência plena. Todxs somos violentadxs, em maior ou menor grau, e isso deve ser observado com atenção para que não tenhamos comportamentos análogos ao que não aceitamos ou não condiz com nossas condutas.

Dica para um corpo de verão: tenha um corpo e vá a praia, usando o que gostar!

A imagem usada como capa desse artigo, é de uma mulher que foi rechaçada por “ousar” publicar uma foto de biquíni na sua rede social, não atendendo o padrão estabelecido como bonito e admirável. Estamos numa época que clama por desconstruções de lógicas excludentes, todxs devem ocupar o espaço que julgar merecer, não é a toa que seguimos com o advento: REPRESENTATIVIDADE importa.

Comentários

Escreva um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja também

Mais de Artigos